Nasceu agora há pouco.
Com 57 quilos.
1 metro e 65.
Bastante cabelo.
Não chorou, sorriu. Mas estranhou…
A luz na sua cara não foi o problema.
Quem brilhava era o sol.
Depois choveu. Pra lavar e fazer florescer.
Nasceu sentado no chão.
Saiu de dentro de si mesma.
Pariu a ela própria em uma tarde dessas de verão.
Viu o sangue escorrer pelas pernas.
Sentiu cada uma das contrações.
Verteu lágrimas dos olhos.
E acolheu carinhosamente no peito o fruto que nascia do amor.
Amor que resgatou nas profundezas das suas entranhas.
Encontrado durante a jornada interior pelo vai-e-vem de suas emoções.
Sentia mesmo saudades dele…
Vez ou outra ele apitava em seu ouvido.
Pedindo para que ela corresse na chuva.
Andasse com as pernas para cima.
Cantasse no meio da rua.
E ela, tímida, nem sempre obedecia.
Outra voz estava sempre a falar mais alto…
A da descrença!
Que duvidava de tudo.
Da vida.
Da própria alma.
Não sou capaz! Gritava em todas as oportunidades.
Ah vá! Faça-me o favor!
E agora que gestou a si dentro do próprio útero.
E pariu sua imagem e semelhança.
E sentiu por meses a fio toda a força da criação.
Desconfiou da dúvida e pôs ordem na mente.
Psiu!
Não acredito mais nas mentiras que me conta!
Arrebatou-se de uma energia quente.
E outra fria.
E outra que fazia cócegas, molhava e fazia girar.
Assim. Tudo junto!
E sorria.
Morria.
Nascia.
Vivia.
Deu seus primeiros passos zonza.
Andou assim, assim.
Caiu.
Riu.
Levantou como deu.
Foi que foi engatinhando.
Sem pressa de chegar.
E sem ter que chegar a parte alguma.
A ordem era só seguir.
Fluir.
Voar.
Virar folha em tarde de outono.
Sentiu o cheiro da vida.
Viu as cores da alegria.
Provou o gosto da própria consciência.
Desperta.
Renascida.
Inteira.
Podia ser ela mesma.
Novinha em folha.
E agora, de verdade.